segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Reunião de 4 de Fevereiro de 2011

       Na passada sexta-feira dia 4 de Fevereiro de 2010 decidimos aprofundar o nosso conhecimento de uma oração desconhecida da maior parte do grupo. Estivemos a falar do Salve Rainha, rezado individualmente ou no fim de um terço.
       O Salve Rainha é uma oração dedicada à Virgem Maria e é dividida em 4 partes: introdução (invocando a Virgem Maria como soberana Mãe de Deus e nossa), a exposição de nossas necessidades espirituais, a apresentação dos nossos pedidos e a saudação final.
       O nome Salve, vem de salvar: como Jesus nos salvou, também salvou a sua mãe. Rainha porque Maria tem todo o poder no céu e na terra, como tal nós rogamos-lhe para que interceda por nós. Tudo o que ela pedir a Jesus, ser-lhe-á concedido, como ficou provado no episódio das bodas de Canã.
       De seguida, seguem-se alguns adjectivos dados a Maria: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, Salve!”. “Mãe de Misericórdia” por ter sido mãe de Jesus, o exemplo máximo de Misericórdia e também por ser um exemplo para o resto das mães do mundo. “Vida”, Jesus disse Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida", como tal Maria foi a Mãe da Vida para todos nós que é Jesus. Por outro lado como mãe que foi, foi aquela que ao dar à luz deu a Vida. “Doçura” porque sendo o doce, algo agradável para nós, Maria é a doçura da humanidade. “Esperança”, pela possibilidade já vista de Maria interceder por nós a Jesus e a Deus.
       “A ti bradamos, os degredados filhos de Eva”. Bradar significa gritar, mas é um gritar especial, um gritar doloroso em que assumimos a nossa posição de pecadores, de filhos de Eva, de filhos do pecado original.
        “A ti suspiramos, gemendo e chorando, nesse vale de lágrimas”. Nesta frase voltamos a pedir a ajuda de Maria, mostrando-lhe a nossa péssima posição de pecadores arrependidos.
        “Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. Voltamos nesta frase a considerar Maria como nossa advogada de defesa e pedimos-lhe que olhe para nós com os seus olhos misericordiosos.
       “E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre”. Este é pedido mais importante da oração, mostrar-nos Jesus, a nossa salvação.
        “O clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”. Mais 3 adjectivos que funcionam como aclamações de amor, que são desta vez usadas como despedidas finais da oração.
        “Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo”. Pedido final, acaba por ser o reforçar da ideia inicial, que foi sendo relatada no decorrer da oração.

André Simão

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reunião de 28 de Janeiro de 2011

     Esta reunião foi preparada por 3 dos nossos elementos: Bruno, Moreno e Fábio; cujo tema era a Morte vista pelas diferentes religiões, nomeadamente pelo budismo, judaísmo e islamismo.
     Dividimo-nos em 3 grupo e cada um foi para uma sala responder a questões que nos eram feitas por quem preparou a reunião, só para ver como estava a nossa cultura geral. À medida que íamos acabando, éramos encaminhados para dentro da Igreja e tínhamos que procurar o papel com a religião do nosso grupo.
      Encontrado o papel que nos fornecia algumas informações sobre a religião, devíamos permanecer nesse local e escrever um texto com as diferenças e semelhanças e com aquilo que nos surpreendeu entre aquela religião e o cristianismo. Resumindo cada uma:
  • Os budistas acreditam na reencarnação e que depois destas as pessoas tornam-se mais perfeitas. O islamismo crê na vida eterna e no julgamento feito pelo seu Deus. Os judeus, na sua maioria, acreditam na ressurreição, porém uma pequena parte acredita na reencarnação.
  • Em relação ao velório o que é comum a todas elas é lerem-se textos sagrados. No budismo usam velas e flores como nós e ainda incenso.Porém, no islamismo só os homens participam na cerimónia; outra particularidade é o corpo ser enrolado em 3 panos brancos e apesar de ser levado num caixão é depositado na terra sem o caixão.Os judeus não permitem autópsias e o velório é sempre feito com caixão fechado.
  • No judaísmo os parentes mais próximos rasgam um pedaço da roupa para mostrar o luto e em suas casas todos os espelhos são cobertos com panos. No budismo o luto faz-se transcrevendo textos sagrados de 7 em 7 dias, durante 49 dias, sendo que ao fim deste tempo acreditam que ocorre a reencarnação.

      Feito isto, voltámos para a nossa sala comum que estava “decorada” misticamente com velas e foi nesse cenário que debatemos o que tínhamos concluído em cada grupo. Ficam aqui algumas das ideias desse debate:
  • O número 7 está relacionado com todas elas, pois realizam-se cerimónias ao 7º dia e no caso do budismo fica ainda mais vincado nos 49 dias, 7x7=49, e o 7 é visto como número da perfeição e para eles a reencarnação é sinónimo de perfeição.
  • Houve várias versões do inferno e do seu significado, uma delas é que não tem de ser necessariamente um sítio muito mau e quente, mas que é a ausência de Deus.
  • Por outro lado, se cada religião tem uma crença, será que depois da morte vamos para mundos diferentes.
  • Sendo assim, ficámos sem saber quem tem razão sobre a morte, pois vai depender da fé de cada um.

M Inês Freitas

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Reunião de 21 de Janeiro de 2011

      No passado dia 21 de Janeiro tivemos a visita do padre Casimiro, da paróquia de Corroios, que nos veio falar sobre S. Mateus.
Durante a reunião, fomos ouvindo e relembrando histórias e curiosidades sobre a vida e os feitos de S. Mateus e a altura em que viveu. Falámos sobre a história dos Magos do Oriente, que se encontra no Evangelho de S. Mateus.
      Ouvimos que existem mais evangelhos para além dos que estão presentes na bíblia, os evangelhos Apócrifos, que são documentos do início da era Cristã, que abordam a vida e os ensinamentos de Jesus. A Igreja não os considerou autênticos, e por isso, não foram incluídos na Bíblia. Os mais conhecidos são “Evangelho dos Hebreus” e “Evangelho de Pedro”, entre outros.
      Falámos sobre a História de David e Salomão. A Bíblia diz que a primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto império. Deus mandou os israelitas construírem-lhe um Santuário. Este santuário foi construído, sob o comando de Moisés, quando os israelitas caminhavam pelo deserto do Sinai, depois de deixarem o Egipto. Este santuário era uma tenda, chamada Tenda da Reunião. Quando os israelitas entraram na Terra de Canaã, o Rei David construiu um palácio para viver, mas não achou correcto habitar um palácio e o Santuário de Deus ser numa tenda e, por isso, quis construir um templo para Deus. Deus recusou a proposta de David, por este ter sido responsável por muitas mortes em batalhas. Seria Salomão, filho de David que construiria o Templo de Jerusalém. A notícia da construção magnífica de Salomão espalhou-se e a Rainha do Sabá quis ver o Templo com os seus próprios olhos, ficando maravilhada com a obra e Salomão ofereceu-lhe uma residência dentro do seu reinado, o que era considerado uma grande honra. O reinado de Salomão (970 a.C. a 930 a.C.) foi marcado pela construção do Templo de Jerusalém.
      Para além das histórias que nos contou, o Padre Casimiro também respondeu às nossas perguntas e esclareceu as dúvidas que haviam no grupo.

Ana Marta Rodrigues

Reunião de 14 de Janeiro de 2011

      Numa das nossas reuniões (a de dia 14 de Janeiro de 2011), fizemos uma espécie de intercâmbio, ou seja, nós falámos com pessoas de outro grupo e também de outro país. Neste caso o grupo de jovens scalabrinianos manteve uma conversação com um grupo de Itália. Esta reunião foi muito bem preparada e foi muito divertida e esperamos um dia repetir.

André Filipe Moreno


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

11ª sondagem - Têm conhecimento da perseguição que os cristãos coptas estão a sofrer no Egipto?


        Aqui está a 2ª sondagem. Assunto muito falado no inicio do ano. Desde aí muita coisa mudou no Egipto…


Cristãos coptas reclamam justiça no Cairo
"O ataque contra cristãos no Egipto, que causou 21 mortos, levanta uma onda de revolta entre a comunidade religiosa."


Papa apela ao fim da violência e intolerância
"Bento XVI lembra situações no Iraque, Egipto e deserto do Sinai"


Papa lembra comunidades ameaçadas
"Bento XVI envia saudações natalícias aos cristãos do Oriente que celebram esta festa a 7 de Janeiro"


Secretário-geral da ONU condena ataque a cristãos coptas 
"Do Vaticano também chegaram reforçadas críticas aos ataques, pela voz do padre Federico Lombardi."
Egipto: Núncio nega «ingerência» papal
"D. Michael Fitzgerald, antigo presidente do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso, diz que Bento XVI pede respeito por todos os crentes."
Algumas centenas de cristãos coptas celebraram a Missa de Domingo em plena Praça Tahir


10ª sondagem - Sabem o que são cristãos coptas?


      Pela primeira vez no nosso blog, fizemos duas sondagens em simultâneo. O acontecimento actual que queríamos perguntar tratava-se da 2ª sondagem, mas como desconfiávamos que provavelmente muita gente não soubesse quem eram os cristão coptas, decidimos fazer esta primeiro. Como esperado a maioria dos votantes não conhecem esta vertente do cristianismo, como tal vamos publicar um conjunto de links que fornecem alguma informação básica sobre o assunto. Boa leitura…


Quem são os cristãos do Egipto?
“Na noite de passagem de ano foram mortos 23 cristãos egípcios num atentado em Alexandria. Saiba aqui quem são os coptas, uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, e como vivem actualmente.”


O cristianismo copta


Quem são os cristãos coptas?
Testemunho áudio


O Sínodo das Igrejas do Médio - Oriente já acabou!
Texto de opinião de um cristão copta em Portugal



      Vamos também aproveitar este tema para falar um pouco do ecumenismo, principalmente das declarações proferidas pelo papa na recente semana de oração pela unidade dos cristãos.


O Ecumenismo


Ecumenismo: Bento XVI convida cristãos a «abandonar o escândalo» das divisões
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?tpl=&id=83928
“Papa preside esta Terça-feira à conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” 


Ecumenismo: Papa admite dificuldades no caminho para a unidade entre as Igrejas cristãs
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?tpl=&id=83940
“Bento XVI recebeu delegação luterana da Alemanha e deixou mensagem de «esperança» no futuro”

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

3ª catequese JMJ - 7 de Janeiro de 2011

      No passado dia 7 de Janeiro de 2011, na Igreja do Feijó, realizou-se a 3ªcatequse de preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), em que o tema é “JMJ e o Baptismo”. Este também foi o dia em que a Vigararia do Seixal entregou a cruz à Vigararia de Almada e como tal o nosso grupo marcou presença.
     “Edificados e enraizados em Cristo, firmes na Fé” (Cl 2,7), segundo as palavras do Bispo do Algarve, Manuel Neto Quintas, estas três acções iniciam-se no Baptismo, sendo este o Sacramento que fundamenta a vida cristã e é a entrada da vida no Espírito.
      O Baptismo dá-nos uma Vida Nova em Cristo e a água, fonte de vida e de energia, torna-nos filhos muito amados de Deus. Esta Vida Nova é um verdadeiro nascimento daqueles que são purificados e regenerados pela água e pelo Espírito de Deus e o inicio para a Vida Eterna. Embora seja nesta água que começa o Homem-Novo, a água por si só não basta, tal como disse Jesus no Evangelho segundo São João: «Fica sabendo que só quem nascer da água e do espírito é que pode entrar no reino de Deus. O que nasce da carne é carne e o que nasce do espírito é espírito» (Jo 3, 1-9).
       O Baptismo é, então, o ponto de partida para uma vida divina, enraizada em Cristo, mas em permanente crescimento, pois é necessário seguir, aprender e crescer em Cristo.
       É inevitável, quando falamos do Baptismo, falar na Fé, pois a Fé é a essência deste sacramento, é o sinal da nossa fé cristã «quem acreditar e for baptizado será salvo» (Mc 16,16).
        Para que sejamos testemunhas de Deus e vejamos a salvação é necessário unirmo-nos a Cristo e é pelo Baptismo que iniciamos esta união; é um acto para exprimir a Palavra de Deus.
        Tal como se tem vindo a referir, o Baptismo é o começo da nossa caminhada, é através deste sacramento que nos enraizamos em Cristo, mas é necessário celebrar e viver o Baptismo e acima de tudo permanecermos firmes na fé em Cristo para vivermos como verdadeiros filhos de Deus.

Lígia Rolo


JMJ - Hino das Jornadas Mundiais da Juventude Madrid 2011

      Publicamos agora, para quem ainda não conhece o Hino das Jornadas Mundiais da Juventude Madrid 2011. Para quem quiser encontra a tradução em português e noutras línguas no seguinte link:




9ª sondagem - Tiveram conhecimento da mensagem papal de 1 de Janeiro?


      Sondagem pouco votada e colocada um pouco depois do acontecimento, mas mais vale tarde do que nunca. Aqui vai a mensagem papal para este ano de 2011…

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2011

Liberdade religiosa, caminho para a paz

       1. No início de um ano novo, desejo fazer chegar a todos e cada um os meus votos: votos de serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz. Infelizmente também o ano que encerra as portas esteve marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa.
        Penso, em particular, na amada terra do Iraque, que, no seu caminho para a desejada estabilidade e reconciliação, continua a ser cenário de violências e atentados. Recordo as recentes tribulações da comunidade cristã, e de modo especial o vil ataque contra a catedral siro-católica de «Nossa Senhora do Perpétuo Socorro» em Bagdad, onde, no passado dia 31 de Outubro, foram assassinados dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis, quando se encontravam reunidos para a celebração da Santa Missa. A este ataque seguiram-se outros nos dias sucessivos, inclusive contra casas privadas, gerando medo na comunidade cristã e o desejo, por parte de muitos dos seus membros, de emigrar à procura de melhores condições de vida. Manifesto-lhes a minha solidariedade e a da Igreja inteira, sentimento que ainda recentemente teve uma concreta expressão na Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, a qual encorajou as comunidades católicas no Iraque e em todo o Médio Oriente a viverem a comunhão e continuarem a oferecer um decidido testemunho de fé naquelas terras.
        Agradeço vivamente aos governos que se esforçam por aliviar os sofrimentos destes irmãos em humanidade e convido os católicos a orarem pelos seus irmãos na fé que padecem violências e intolerâncias e a serem solidários com eles. Neste contexto, achei particularmente oportuno partilhar com todos vós algumas reflexões sobre a liberdade religiosa, caminho para a paz. De facto, é doloroso constatar que, em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal. Noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos. Os cristãos são, actualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa. Não se pode aceitar nada disto, porque constitui uma ofensa a Deus e à dignidade humana; além disso, é uma ameaça à segurança e à paz e impede a realização de um desenvolvimento humano autêntico e integral.[1]
        De facto, na liberdade religiosa exprime-se a especificidade da pessoa humana, que, por ela, pode orientar a própria vida pessoal e social para Deus, a cuja luz se compreendem plenamente a identidade, o sentido e o fim da pessoa. Negar ou limitar arbitrariamente esta liberdade significa cultivar uma visão redutiva da pessoa humana; obscurecer a função pública da religião significa gerar uma sociedade injusta, porque esta seria desproporcionada à verdadeira natureza da pessoa; isto significa tornar impossível a afirmação de uma paz autêntica e duradoura para toda a família humana.
        Por isso, exorto os homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a mente (cf. Mt 22, 37). Este é o sentimento que inspira e guia a Mensagem para o XLIV Dia Mundial da Paz, dedicada ao tema: Liberdade religiosa, caminho para a paz.

Direito sagrado à vida e a uma vida espiritual

        2. O direito à liberdade religiosa está radicado na própria dignidade da pessoa humana,[2] cuja natureza transcendente não deve ser ignorada ou negligenciada. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 27). Por isso, toda a pessoa é titular do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual. Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa.[3]
        A Sagrada Escritura, em sintonia com a nossa própria experiência, revela o valor profundo da dignidade humana: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés» (Sl 8, 4-7).
        Perante a sublime realidade da natureza humana, podemos experimentar a mesma admiração expressa pelo salmista. Esta manifesta-se como abertura ao Mistério, como capacidade de interrogar-se profundamente sobre si mesmo e sobre a origem do universo, como íntima ressonância do Amor supremo de Deus, princípio e fim de todas as coisas, de cada pessoa e dos povos.[4] A dignidade transcendente da pessoa é um valor essencial da sabedoria judaico-cristã, mas, graças à razão, pode ser reconhecida por todos. Esta dignidade, entendida como capacidade de transcender a própria materialidade e buscar a verdade, há-de ser reconhecida como um bem universal, indispensável na construção duma sociedade orientada para a realização e a plenitude do homem. O respeito de elementos essenciais da dignidade do homem, tais como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica.

Liberdade religiosa e respeito recíproco

        3. A liberdade religiosa está na origem da liberdade moral. Com efeito, a abertura à verdade e ao bem, a abertura a Deus, radicada na natureza humana, confere plena dignidade a cada um dos seres humanos e é garante do respeito pleno e recíproco entre as pessoas. Por conseguinte, a liberdade religiosa deve ser entendida não só como imunidade da coacção mas também, e antes ainda, como capacidade de organizar as próprias opções segundo a verdade.
        Existe uma ligação indivisível entre liberdade e respeito; de facto, «cada homem e cada grupo social estão moralmente obrigados, no exercício dos próprios direitos, a ter em conta os direitos alheios e os seus próprios deveres para com os outros e o bem comum».[5] 
        Uma liberdade hostil ou indiferente a Deus acaba por se negar a si mesma e não garante o pleno respeito do outro. Uma vontade, que se crê radicalmente incapaz de procurar a verdade e o bem, não tem outras razões objectivas nem outros motivos para agir senão os impostos pelos seus interesses momentâneos e contingentes, não tem uma «identidade» a preservar e construir através de opções verdadeiramente livres e conscientes. Mas assim não pode reclamar o respeito por parte de outras «vontades», também estas desligadas do próprio ser mais profundo e capazes, por conseguinte, de fazer valer outras «razões» ou mesmo nenhuma «razão». A ilusão de encontrar no relativismo moral a chave para uma pacífica convivência é, na realidade, a origem da divisão e da negação da dignidade dos seres humanos. Por isso se compreende a necessidade de reconhecer uma dupla dimensão na unidade da pessoa humana: a religiosa e a social. A este respeito, é inconcebível que os crentes «tenham de suprimir uma parte de si mesmos – a sua fé – para serem cidadãos activos; nunca deveria ser necessário renegar a Deus, para se poder gozar dos próprios direitos».[6]

A família, escola de liberdade e de paz

       4. Se a liberdade religiosa é caminho para a paz, a educação religiosa é estrada privilegiada para habilitar as novas gerações a reconhecerem no outro o seu próprio irmão e a sua própria irmã, com quem caminhar juntos e colaborar para que todos se sintam membros vivos de uma mesma família humana, da qual ninguém deve ser excluído.
        A família fundada sobre o matrimónio, expressão de união íntima e de complementaridade entre um homem e uma mulher, insere-se neste contexto como a primeira escola de formação e de crescimento social, cultural, moral e espiritual dos filhos, que deveriam encontrar sempre no pai e na mãe as primeiras testemunhas de uma vida orientada para a busca da verdade e para o amor de Deus. Os próprios pais deveriam ser sempre livres para transmitir, sem constrições e responsavelmente, o próprio património de fé, de valores e de cultura aos filhos. A família, primeira célula da sociedade humana, permanece o âmbito primário de formação para relações harmoniosas a todos os níveis de convivência humana, nacional e internacional. Esta é a estrada que se há-de sapientemente percorrer para a construção de um tecido social robusto e solidário, para preparar os jovens à assunção das próprias responsabilidades na vida, numa sociedade livre, num espírito de compreensão e de paz.

Um património comum

        5. Poder-se-ia dizer que, entre os direitos e as liberdades fundamentais radicados na dignidade da pessoa, a liberdade religiosa goza de um estatuto especial. Quando se reconhece a liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos. Pelo contrário, quando a liberdade religiosa é negada, quando se tenta impedir de professar a própria religião ou a própria fé e de viver de acordo com elas, ofende-se a dignidade humana e, simultaneamente, acabam ameaçadas a justiça e a paz, que se apoiam sobre a recta ordem social construída à luz da Suma Verdade e do Sumo Bem.
        Neste sentido, a liberdade religiosa é também uma aquisição de civilização política e jurídica. Trata-se de um bem essencial: toda a pessoa deve poder exercer livremente o direito de professar e manifestar, individual ou comunitariamente, a própria religião ou a própria fé, tanto em público como privadamente, no ensino, nos costumes, nas publicações, no culto e na observância dos ritos. Não deveria encontrar obstáculos, se quisesse eventualmente aderir a outra religião ou não professar religião alguma. Neste âmbito, revela-se emblemático e é uma referência essencial para os Estados o ordenamento internacional, enquanto não consente alguma derrogação da liberdade religiosa, salvo a legítima exigência da justa ordem pública.[7] Deste modo, o ordenamento internacional reconhece aos direitos de natureza religiosa o mesmo status do direito à vida e à liberdade pessoal, comprovando a sua pertença ao núcleo essencial dos direitos do homem, àqueles direitos universais e naturais que a lei humana não pode jamais negar.
        A liberdade religiosa não é património exclusivo dos crentes, mas da família inteira dos povos da terra. É elemento imprescindível de um Estado de direito; não pode ser negada, sem ao mesmo tempo minar todos os direitos e as liberdades fundamentais, pois é a sua síntese e ápice. É «o papel de tornassol para verificar o respeito de todos os outros direitos humanos».[8] Ao mesmo tempo que favorece o exercício das faculdades humanas mais específicas, cria as premissas necessárias para a realização de um desenvolvimento integral, que diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em cada uma das suas dimensões.[9]

A dimensão pública da religião 

        6. Embora movendo-se a partir da esfera pessoal, a liberdade religiosa – como qualquer outra liberdade – realiza-se na relação com os outros. Uma liberdade sem relação não é liberdade perfeita. Também a liberdade religiosa não se esgota na dimensão individual, mas realiza-se na própria comunidade e na sociedade, coerentemente com o ser relacional da pessoa e com a natureza pública da religião.
        O relacionamento é uma componente decisiva da liberdade religiosa, que impele as comunidades dos crentes a praticarem a solidariedade em prol do bem comum. Cada pessoa permanece única e irrepetível e, ao mesmo tempo, completa-se e realiza-se plenamente nesta dimensão comunitária.
        Inegável é a contribuição que as religiões prestam à sociedade. São numerosas as instituições caritativas e culturais que atestam o papel construtivo dos crentes na vida social. Ainda mais importante é a contribuição ética da religião no âmbito político. Tal contribuição não deveria ser marginalizada ou proibida, mas vista como válida ajuda para a promoção do bem comum. Nesta perspectiva, é preciso mencionar a dimensão religiosa da cultura, tecida através dos séculos graças às contribuições sociais e sobretudo éticas da religião. Tal dimensão não constitui de modo algum uma discriminação daqueles que não partilham a sua crença, mas antes reforça a coesão social, a integração e a solidariedade.

Liberdade religiosa, força de liberdade e de civilização:
os perigos da sua instrumentalização

        7. A instrumentalização da liberdade religiosa para mascarar interesses ocultos, como por exemplo a subversão da ordem constituída, a apropriação de recursos ou a manutenção do poder por parte de um grupo, pode provocar danos enormes às sociedades. O fanatismo, o fundamentalismo, as práticas contrárias à dignidade humana não se podem jamais justificar, e menos ainda o podem ser se realizadas em nome da religião. A profissão de uma religião não pode ser instrumentalizada, nem imposta pela força. Por isso, é necessário que os Estados e as várias comunidades humanas nunca se esqueçam que a liberdade religiosa é condição para a busca da verdade e que a verdade não se impõe pela violência mas pela «força da própria verdade».[10] Neste sentido, a religião é uma força positiva e propulsora na construção da sociedade civil e política.
        Como se pode negar a contribuição das grandes religiões do mundo para o desenvolvimento da civilização? A busca sincera de Deus levou a um respeito maior da dignidade do homem. As comunidades cristãs, com o seu património de valores e princípios, contribuíram imenso para a tomada de consciência das pessoas e dos povos a respeito da sua própria identidade e dignidade, bem como para a conquista de instituições democráticas e para a afirmação dos direitos do homem e seus correlativos deveres.
        Também hoje, numa sociedade cada vez mais globalizada, os cristãos são chamados – não só através de um responsável empenhamento civil, económico e político, mas também com o testemunho da própria caridade e fé – a oferecer a sua preciosa contribuição para o árduo e exaltante compromisso em prol da justiça, do desenvolvimento humano integral e do recto ordenamento das realidades humanas. A exclusão da religião da vida pública subtrai a esta um espaço vital que abre para a transcendência. Sem esta experiência primária, revela-se uma tarefa árdua orientar as sociedades para princípios éticos universais e torna-se difícil estabelecer ordenamentos nacionais e internacionais nos quais os direitos e as liberdades fundamentais possam ser plenamente reconhecidos e realizados, como se propõem os objectivos – infelizmente ainda menosprezados ou contestados – da Declaração Universal dos direitos do homem de 1948.

Uma questão de justiça e de civilização:
o fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam
a laicidade positiva dos Estados

        8. A mesma determinação, com que são condenadas todas as formas de fanatismo e de fundamentalismo religioso, deve animar também a oposição a todas as formas de hostilidade contra a religião, que limitam o papel público dos crentes na vida civil e política.
        Não se pode esquecer que o fundamentalismo religioso e o laicismo são formas reverberadas e extremas de rejeição do legítimo pluralismo e do princípio de laicidade. De facto, ambas absolutizam uma visão redutiva e parcial da pessoa humana, favorecendo formas, no primeiro caso, de integralismo religioso e, no segundo, de racionalismo. A sociedade, que quer impor ou, ao contrário, negar a religião por meio da violência, é injusta para com a pessoa e para com Deus, mas também para consigo mesma. Deus chama a Si a humanidade através de um desígnio de amor, o qual, ao mesmo tempo que implica a pessoa inteira na sua dimensão natural e espiritual, exige que lhe corresponda em termos de liberdade e de responsabilidade, com todo o coração e com todo o próprio ser, individual e comunitário. Sendo assim, também a sociedade, enquanto expressão da pessoa e do conjunto das suas dimensões constitutivas, deve viver e organizar-se de modo a favorecer a sua abertura à transcendência. Por isso mesmo, as leis e as instituições duma sociedade não podem ser configuradas ignorando a dimensão religiosa dos cidadãos ou de modo que prescindam completamente da mesma; mas devem ser comensuradas – através da obra democrática de cidadãos conscientes da sua alta vocação – ao ser da pessoa, para o poderem favorecer na sua dimensão religiosa. Não sendo esta uma criação do Estado, não pode ser manipulada, antes deve contar com o seu reconhecimento e respeito.
        O ordenamento jurídico a todos os níveis, nacional e internacional, quando consente ou tolera o fanatismo religioso ou anti-religioso, falta à sua própria missão, que consiste em tutelar e promover a justiça e o direito de cada um. Tais realidades não podem ser deixadas à mercê do arbítrio do legislador ou da maioria, porque, como já ensinava Cícero, a justiça consiste em algo mais do que um mero acto produtivo da lei e da sua aplicação. A justiça implica reconhecer a cada um a sua dignidade,[11] a qual, sem liberdade religiosa garantida e vivida na sua essência, fica mutilada e ofendida, exposta ao risco de cair sob o predomínio dos ídolos, de bens relativos transformados em absolutos. Tudo isto expõe a sociedade ao risco de totalitarismos políticos e ideológicos, que enfatizam o poder público, ao mesmo tempo que são mortificadas e coarctadas, como se lhe fizessem concorrência, as liberdades de consciência, de pensamento e de religião.

Diálogo entre instituições civis e religiosas

        9. O património de princípios e valores expressos por uma religiosidade autêntica é uma riqueza para os povos e respectivas índoles: fala directamente à consciência e à razão dos homens e mulheres, lembra o imperativo da conversão moral, motiva para aperfeiçoar a prática das virtudes e aproximar-se amistosamente um do outro sob o signo da fraternidade, como membros da grande família humana.[12]
        No respeito da laicidade positiva das instituições estatais, a dimensão pública da religião deve ser sempre reconhecida. Para isso, um diálogo sadio entre as instituições civis e as religiosas é fundamental para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da harmonia da sociedade.  

Viver no amor e na verdade

       10. No mundo globalizado, caracterizado por sociedades sempre mais multiétnicas e pluriconfessionais, as grandes religiões podem constituir um factor importante de unidade e paz para a família humana. Com base nas suas próprias convicções religiosas e na busca racional do bem comum, os seus membros são chamados a viver responsavelmente o próprio compromisso num contexto de liberdade religiosa. Nas variadas culturas religiosas, enquanto há que rejeitar tudo aquilo que é contra a dignidade do homem e da mulher, é preciso, ao contrário, valer-se daquilo que resulta positivo para a convivência civil.
       O espaço público, que a comunidade internacional torna disponível para as religiões e para a sua proposta de «vida boa», favorece o aparecimento de uma medida compartilhável de verdade e de bem e ainda de um consenso moral, que são fundamentais para uma convivência justa e pacífica. Os líderes das grandes religiões, pela sua função, influência e autoridade nas respectivas comunidades, são os primeiros a ser chamados ao respeito recíproco e ao diálogo.
       Os cristãos, por sua vez, são solicitados pela sua própria fé em Deus, Pai do Senhor Jesus Cristo, a viver como irmãos que se encontram na Igreja e colaboram para a edificação de um mundo, onde as pessoas e os povos «não mais praticarão o mal nem a destruição (...), porque o conhecimento do Senhor encherá a terra, como as águas enchem o leito do mar» (Is 11, 9). 

Diálogo como busca em comum

        11. Para a Igreja, o diálogo entre os membros de diversas religiões constitui um instrumento importante para colaborar com todas as comunidades religiosas para o bem comum. A própria Igreja nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. «Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens».[13]
         A estrada indicada não é a do relativismo nem do sincretismo religioso. De facto, a Igreja «anuncia, e tem mesmo a obrigação de anunciar incessantemente Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14, 6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo mesmo todas as coisas».[14] Todavia isto não exclui o diálogo e a busca comum da verdade em diversos âmbitos vitais, porque, como diz uma expressão usada frequentemente por São Tomás de Aquino, «toda a verdade, independentemente de quem a diga, provém do Espírito Santo».[15]
         Em 2011, tem lugar o 25º aniversário da Jornada Mundial de Oração pela Paz, que o Venerável Papa João Paulo II convocou em Assis em 1986. Naquela ocasião, os líderes das grandes religiões do mundo deram testemunho da religião como sendo um factor de união e paz, e não de divisão e conflito. A recordação daquela experiência é motivo de esperança para um futuro onde todos os crentes se sintam e se tornem autenticamente obreiros de justiça e de paz.

Verdade moral na política e na diplomacia

         12. A política e a diplomacia deveriam olhar para o património moral e espiritual oferecido pelas grandes religiões do mundo, para reconhecer e afirmar verdades, princípios e valores universais que não podem ser negados sem, com os mesmos, negar-se a dignidade da pessoa humana. Mas, em termos práticos, que significa promover a verdade moral no mundo da política e da diplomacia? Quer dizer agir de maneira responsável com base no conhecimento objectivo e integral dos factos; quer dizer desmantelar ideologias políticas que acabam por suplantar a verdade e a dignidade humana e pretendem promover pseudo-valores com o pretexto da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos; quer dizer favorecer um empenho constante de fundar a lei positiva sobre os princípios da lei natural.[16] Tudo isto é necessário e coerente com o respeito da dignidade e do valor da pessoa humana, sancionado pelos povos da terra na Carta da Organização das Nações Unidas de 1945, que apresenta valores e princípios morais universais de referência para as normas, as instituições, os sistemas de convivência a nível nacional e internacional.

Para além do ódio e do preconceito

         13. Não obstante os ensinamentos da história e o compromisso dos Estados, das organizações internacionais a nível mundial e local, das organizações não governamentais e de todos os homens e mulheres de boa vontade que cada dia se empenham pela tutela dos direitos e das liberdades fundamentais, ainda hoje no mundo se registam perseguições, descriminações, actos de violência e de intolerância baseados na religião. De modo particular na Ásia e na África, as principais vítimas são os membros das minorias religiosas, a quem é impedido de professar livremente a própria religião ou mudar para outra, através da intimidação e da violação dos direitos, das liberdades fundamentais e dos bens essenciais, chegando até à privação da liberdade pessoal ou da própria vida.
        Temos depois, como já disse, formas mais sofisticadas de hostilidade contra a religião, que nos países ocidentais se exprimem por vezes com a renegação da própria história e dos símbolos religiosos nos quais se reflectem a identidade e a cultura da maioria dos cidadãos. Frequentemente tais formas fomentam o ódio e o preconceito e não são coerentes com uma visão serena e equilibrada do pluralismo e da laicidade das instituições, sem contar que as novas gerações correm o risco de não entrar em contacto com o precioso património espiritual dos seus países.
         A defesa da religião passa pela defesa dos direitos e liberdades das comunidades religiosas. Assim, os líderes das grandes religiões do mundo e os responsáveis das nações renovem o compromisso pela promoção e a tutela da liberdade religiosa, em particular pela defesa das minorias religiosas; estas não constituem uma ameaça contra a identidade da maioria, antes, pelo contrário, são uma oportunidade para o diálogo e o mútuo enriquecimento cultural. A sua defesa representa a maneira ideal para consolidar o espírito de benevolência, abertura e reciprocidade com que se há-de tutelar os direitos e as liberdades fundamentais em todas as áreas e regiões do mundo.

Liberdade religiosa no mundo

          14. Dirijo-me, por fim, às comunidades cristãs que sofrem perseguições, discriminações, actos de violência e intolerância, particularmente na Ásia, na África, no Médio Oriente e de modo especial na Terra Santa, lugar escolhido e abençoado por Deus. Ao mesmo tempo que lhes renovo a expressão do meu afecto paterno e asseguro a minha oração, peço a todos os responsáveis que intervenham prontamente para pôr fim a toda a violência contra os cristãos que habitam naquelas regiões. Que os discípulos de Cristo não desanimem com as presentes adversidades, porque o testemunho do Evangelho é e será sempre sinal de contradição.
           Meditemos no nosso coração as palavras do Senhor Jesus: «Felizes os que choram, porque hão-se ser consolados. (...) Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (...) Felizes sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentido, vos acusarem de toda a espécie de mal. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos Céus a vossa recompensa» (Mt 5, 4-12). Por isso, renovemos «o compromisso por nós assumido no sentido da indulgência e do perdão – que invocamos de Deus para nós, no “Pai-nosso” – por havermos posto, nós próprios, a condição e a medida da desejada misericórdia: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”(Mt 6, 12)».[17] A violência não se vence com a violência. O nosso grito de dor seja sempre acompanhado pela fé, pela esperança e pelo testemunho do amor de Deus. Faço votos também de que cessem no Ocidente, especialmente na Europa, a hostilidade e os preconceitos contra os cristãos pelo facto de estes pretenderem orientar a própria vida de modo coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho. Mais ainda, que a Europa saiba reconciliar-se com as próprias raízes cristãs, que são fundamentais para compreender o papel que teve, tem e pretende ter na história; saberá assim experimentar justiça, concórdia e paz, cultivando um diálogo sincero com todos os povos.

Liberdade religiosa, caminho para a paz

         15. O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional.
          A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projecto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou económico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações. Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejam tornar-se obreiros de paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquista de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, «é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade. São necessárias sobretudo as armas morais, que dão força e prestígio ao direito internacional; aquela arma, em primeiro lugar, da observância dos pactos».[18] A liberdade religiosa é uma autêntica arma da paz, com uma missão histórica e profética. De facto, ela valoriza e faz frutificar as qualidades e potencialidades mais profundas da pessoa humana, capazes de mudar e tornar melhor o mundo; consente alimentar a esperança num futuro de justiça e de paz, mesmo diante das graves injustiças e das misérias materiais e morais. Que todos os homens e as sociedades aos diversos níveis e nos vários ângulos da terra possam brevemente experimentar a liberdade religiosa, caminho para a paz!

Vaticano, 8 de Dezembro de 2010.

BENEDICTUS PP XVI